Há bastante tempo nós do Coletivo Achadouros de Histórias nos deparamos com situações, cenas e experiências sobre questões étnico-raciais,
especialmente ligadas a cabelo no cotidiano da Brechoteca. O cabelo tem seus simbolismos, gostar do cabelo
é gostar do seu corpo, se respeitar. E é na primeira infância que
começamos a construir nossa identidade e bases psicológicas por meio dos valores que introjetamos, das trocas sociais que vivemos. É nesse jogo entre a subjetividade que está se formando, a família e a convivência social que, aos poucos, estruturamos nossa identidade.
As classes dominantes, a mídia e toda uma questão sócio-histórica
vem tentando nos dizer que existe apenas um padrão de beleza. Somos massacrados
diariamente, nos dizem que para ser bonito e bem sucedido precisamos ser
branco, alto, magro, ter o cabelo liso, ser rico, estar "bem
arrumado", precisamos consumir etc.
Pensando um pouco nestas questões promovemos no dia 28 de março, na
Brechoteca, o I Encontro da Beleza, encontrando a si mesma. Foi um
dia muito especial, de forma lúdica propomos atividades que pudessem trazer a
mensagem da diversidade presente na beleza, a apreciação de si mesmo e do respeito como o outro.
Desenhamos, dançamos, conversamos, contamos nossas histórias, assistimos
vídeos da Carolina Monteiro, uma garotinha de oito anos que fala sobre seu
cabelo Black maravilhoso e dá dicas de leituras, arrumamos nossos cabelos,
soltamos as madeixas, encrespamos, enrolamos. Tivemos a participação especial da Alessandra Leite, querida contadora de histórias, que compartilhou passagens da sua infância e nos ensinou como fazer dreads nos cabelos e outras possibilidades de brincar com eles!
Como parte da ação, confeccionamos espelhos
personalizados para cada uma das meninas. Em cada espelho, elas escreveram
frases atrás deles, para quando houver a necessidade de reafirmar sua beleza
única e alimentar a auto-estima, possam reler e lembrar o quanto cada uma delas
são belas e autênticas!
E para fechar o dia com chave de ouro, recitamos um trecho da poesia de
Akins Kintê.
“Duro”
Por tê-lo e por ser belo
O cabelo
Querem zero, ou prende-lo
Eu não quero
E o barbeiro amarela
Na dele
Naquelas
Sem atitude sem negritude
O branquela
Não entende crespitude
Racismo
É engodo e sequela
Engorda os de lá
E os de cá esfarela
Zelo o crespo com fulgor
Negro zela com amor
Para entendê-lo
Berro, quirela, enterro
Aquela falsa abolição
Exijo mais pente afro
Menos ferro, menos favela.
Mais terra e condição
O duro não é o cabelo
São as escolas e suas deixas
O sistema e suas brechas
O crespo é toda uma vida
Quando livre as madeixas
Nenhum comentário:
Postar um comentário